Uma articulação de “brasileiros pró-democracia”, que inclui o Coletivo Andorinha e a Casa do Brasil em Lisboa, entre outros, protestaram contra o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que fez uma palestra sobre o enfrentamento à crise sanitária provocada pela Covid-19. O evento ocorreu nesta terça-feira (26) na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Durante a palestra, Queiroga defendeu as ações do governo Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19. Já os manifestantes atacaram a gestão do ministro e do presidente, classificando ambos como “genocidas”.
“Decidimos organizar o protesto a partir da informação publicada no Diário Oficial da União, no Brasil, de que o Queiroga viria proferir essa conferência. A partir deste momento, o Coletivo Andorinha resolveu fazer uma carta pedindo esclarecimentos ao diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, para confirmar a veracidade dessa informação”, conta Débora Dias, doutora e pesquisadora em história contemporânea, e integrante do coletivo.
“Primeiro, não acreditamos. No momento em que a CPI da Covid coloca o nome do Queiroga entre os possíveis indiciados, por crimes na pandemia e prevaricação, a faculdade o convida para falar sobre como combater a epidemia no Brasil, uma situação muito insólita para acreditarmos que fosse verdade”, conta a pesquisadora ao portal UOL.
A carta do coletivo não foi respondida pela Universidade de Lisboa, que prosseguiu com os planos de receber Queiroga para dar uma palestra. Por essa razão, os coletivos decidiram organizar um protesto durante o evento.
“Convocamos então o ato para mostrarmos nosso repúdio e questionar a sociedade portuguesa sobre o que Queiroga poderia ter a ensinar a Portugal, aos médicos portugueses ou aos estudantes de Medicina locais. A participação do ministro neste evento é um desrespeito às vítimas e familiares das vítimas da Covid no Brasil e também contra todo o povo brasileiro que hoje passa fome e está mergulhado no desemprego”, avalia a historiadora.
Manifestantes dizem que Queiroga foi chamado por ser amigo do diretor da Faculdade
A manifestação aconteceu em frente à Faculdade de Direito, que divide a entrada com o Hospital Santa Maria, um dos principais centros de combate à Covid-19 em Portugal. “Tivemos muita cobertura de imprensa, mas também a participação de pessoas que foram atingidas pela pandemia e perderam familiares no Brasil”, conta a historiadora.
Na avaliação de Samara Azevedo, atriz e doutoranda bolsista em Belas-Artes da Universidade de Lisboa, também integrante do Coletivo Andorinha, ao convidar Queiroga para dar a palestra, a Faculdade de Medicina demonstrou compactuar com a má gestão da pandemia de Covid-19 no Brasil.
“A imprensa portuguesa, questionada por nós, nos respondeu que a faculdade justifica o convite por Queiroga ser um ‘renomado cardiologista de um país amigo’. Na verdade, assistindo à palestra, percebemos que se tratava de um convite pessoal a um ‘amigo’ do diretor da Faculdade de Medicina da universidade de Lisboa. A atitude da faculdade foi irresponsável, quem compactua com genocídio, genocida é”, finaliza a atriz e pesquisadora.