O médico Fábio Marlon Martins França foi preso por um delegado na última quinta-feira (27) após não ter dado prioridade no atendimento dele. Neste domingo (30), em entrevista ao portal “G1”, o médico disse que se sentiu muito constrangido com a situação e chegou a pensar em se mudar de Cavalcante, no nordeste de Goiás, onde o caso aconteceu.
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De acordo com Fábio Marlon, porém, ele não se mudou porque contou com o apoio da população na cidade. “Eu acho que qualquer um na minha situação não aceitaria ser preso ilegalmente. Foi um excesso, foi um abuso, foi humilhante”, disse.
Na entrevista, o médico contou que o delegado queria ser atendido com prioridade após testar positivo para Covid-19. No entanto, ele se negou e o delegado acabou ficando bastante irritado. Com isso, o delegado saiu da unidade.
Momentos depois, o agente público voltou à unidade de saúde com agentes da Polícia Militar (PM) que prenderam o profissional, que foi levado ao presidio acusado por exercício ilegal da medicina, desacato e lesão corporal.
O drama do médico só terminou quando, em audiência de custódia, no dia seguinte, a Justiça liberou ele, avaliando que o médico, integrante do Programa Mais Médicos, está autorizado para exercer a profissão normalmente.
Em sua decisão, o juiz Fernando Oliveira Samuel disse que “nada justifica no caso a condução coercitiva do profissional de saúde no momento que estava a atender o público”. Não suficiente, o magistrado afirma que, “ao que parece, [o delegado] pode realmente ter abusado de suas funções públicas”.
Médico pensou em se mudar
Por conta do fato, o médico, que está na cidade de Cavalcante há cinco anos, pensou em sair do local após a confusão com o delegado. “Eu pensei em quando sair do presídio, eu pegaria minha família e iria embora, porque eu estava com muita vergonha de tudo, não sabia como olhar para o meu povo, para minha equipe de trabalho. Foi uma situação muito humilhante e constrangedora”, completou.
Por fim, além de informar que ficou após ter recebido apoio dos colegas e da população, o médico conta que não vai mudar sua postura. “Todos têm que ser igual. Não é porque a pessoa tem um cargo melhor que vai passar por cima de pessoas que estão ali querendo atendimento, esperando sua vez. Isso eu não vou aceitar jamais. Se esse é o preço para eu cumprir, que me prenda novamente”, afirmou.
Situação regular
Em nota, a Polícia Civil afirmou que, após um levantamento, o delegado constatou que o registro do médico junto ao Conselho Regional de Medicina de Goiás estava cancelado. No entanto, o nome do profissional faz parte do Programa Mais Médicos e, segundo o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), ele tem contrato válido até novembro deste ano.
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