Segundo um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros no Amazonas, a variante Gamma (antes chamada de P.1) sofreu mutações e deu origem a três sublinhagens que já causam a maioria dos novos casos de Covid-19 no estado.
As descobertas dos pesquisadores foram publicadas no último sábado (3) no site Virological, um fórum de debate internacional na área de virologia.
“Nós temos aqui no Amazonas a circulação da variante P.1. O problema é que ela está passando por evolução. Nessa publicação, mostramos a emergência dessas três sublinhagens”, explica o virologista responsável pela descoberta, Felipe Naveca, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia.
O coronavírus sofre mutações como parte de seu processo natural de sobrevivência e multiplicações. Quando a mutação traz alguma vantagem ao vírus, a tendência é que ela se torne predominante, como aconteceu com a variante Gamma, que rapidamente se espalhou pelo Brasil após ser descoberta no Amazonas.
Variante Gamma sofreu mutações para se adaptar
Como agora o coronavírus está circulando em regiões com altas taxas de imunidade, ele busca evoluir para furar a barreira protetora e infectar o corpo humano. De acordo com o estudo, “essas sublinhagens P.1 provavelmente continuarão a se espalhar nos próximos meses no Amazonas e em outros estados brasileiros”.
No mês de maio, a variante Gamma representava 91% dos casos de Covid-19 no Brasil e 100% das infecções no estado do Amazonas. O estado vem registrando estabilidade no número de novos casos da doença desde março. Em média, são contabilizados 500 casos por dia no Amazonas, o que chamou atenção dos pesquisadores.
“Nosso estudo confirma que a circulação persistente de SARS-CoV-2 após a segunda onda epidêmica de covid-19 no estado do Amazonas foi associada à evolução contínua do VOC [variante de preocupação] P.1 através da aquisição de deleções ou mutações na spike”, diz o texto, assinado por 23 pesquisadores, de quatro instituições diferentes do país.
“Nossa hipótese é que a transmissão contínua da variante Gamma na população amazônica com altos níveis de imunidade adquirida tanto da infecção natural por SARS-CoV-2 quanto da vacinação pode selecionar para a segunda geração de variantes P.1 que são mais resistentes à neutralização do que os vírus originais”, diz um trecho do estudo.
Novas mutações da variante Gamma ameaçam eficácia das vacinas
A principal questão que a descoberta de novas linhagens da variante Gamma traz é em relação à eficácia das vacinas contra Covid-19.
“Essa é a principal pergunta a ser respondida. Levando-se em conta que Manaus tem um número elevado de pessoas vacinadas ou que tiveram infecção em uma das duas ondas, nós estamos levantando os dados epidemiológicos para avaliar essa hipótese”, diz Felipe Naveca.
Até serem classificadas por um grupo de curadoria internacional, as novas sublinhagens estão sendo chamadas de “P.1 + 141-144AM”, “P.1 + N679KAM” e “P.1 + P681HAM”, sendo que a 679 e a 681 já causavam mais infecções do que a variante Gamma original na segunda quinzena de maio.
“Uma das três sublinhagens (denominada NTDDel) têm deleções provavelmente para escapar de anticorpos que existem para essa região do vírus. As outras duas sublinhagens (P681H e N679K) possuem mutações que são muito próximas a uma região do vírus que é cortada por uma enzima das nossas células durante o processo de infecção. Essas mutações (679 e 681) parecem aumentar a capacidade do vírus de entrar nas células”, citam os pesquisadores