A Agência Senado postou hoje (23) o calendário da CPI da Pandemia; os Senadores ouvirão nesta terça-feira (24) Emanuel Catori, um dos sócios da farmacêutica Belcher. A empresa atuou como intermediária do laboratório chinês CanSino na negociação com o Ministério da Saúde pelo fornecimento de 60 milhões de doses da vacina Convidencia ao custo de R$ 5 bilhões.
A Belcher tem sede em Maringá (PR), reduto eleitoral do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), de onde ele já foi prefeito. Outro sócio da Belcher é Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, que é filho de Francisco Feio Ribeiro Filho, ex-diretor da Urbamar (Urbanização de Maringá) durante a gestão de Barros. Daniel Moleirinho também atuou na Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) durante o governo de Cida Borghetti (PP), casada com Barros.
Questionado sobre sua relação com o empresário e com a Belcher, Barros afirmou que é amigo pessoal de Francisco e Daniel, mas negou que tenha participado de reuniões no Ministério da Saúde para facilitar a venda da vacina para a pasta.
“Eu não facilitei, não participei. Eventualmente, se solicitado, posso ter buscado auxiliar não só a Belcher, mas todos os que me procuraram. Todas as pessoas que me procuraram pra vender equipamento de proteção, pra vender vacina, pra vender qualquer coisa ao ministério ou para tentar uma parceria pra trazer a sua tecnologia pro Brasil”, disse Ricardo Barros em seu depoimento no dia 12 de agosto.
A Belcher também é investigada pela polícia civil do Distrito Federal na Operação Falso Negativo por suspeitas de superfaturamento na compra de testes rápidos para a covid-19.
Calendário da CPI
A convocação de Catori foi requerida pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Para o senador, o depoente terá que esclarecer “os detalhes das negociações para a venda da vacina chinesa Convidencia”. De acordo com Randolfe, Catori “fez transmissões online com os empresários Luciano Hang e Carlos Wizard para tratar da venda da vacina para o Brasil”.
Na quarta-feira (25) será a vez de ouvir o depoimento de Roberto Pereira Ramos Júnior, presidente do FIB Bank. Roberto Pereira foi convocado por requerimento do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Segundo o senador, a Precisa Medicamentos teria apresentado uma carta de fiança irregular ao Ministério da Saúde quando tentava negociar o imunizante da Covaxin.
Por fim, o calendário da CPI prevê que na quinta-feira (26) o depoimento será de Francisco Araújo, ex-secretário de Saúde do Governo do Distrito Federal. Francisco foi convocado a pedido do senador Eduardo Girão (Podemos-CE). O senador afirma que o depoente é suspeito de participar de esquema de corrupção montado na Secretaria de Saúde envolvendo a compra de testes rápidos para detectar o novo coronavírus e foi preso na chamada Operação Falso Negativo, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Graeco) com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
E as mentiras da Comissão?
Os senadores sabem que muitos depoentes mentem para a CPI, mas a essa altura da Comissão já está preparada para lidar com esses contratempos. Delegado da Polícia Civil, o senador Alessandro Vieira afirma que toda boa investigação é baseada em prova técnica. Na CPI, as ferramentas disponíveis são menores do que numa apuração policial, mas, ainda assim, é mais importante ter em mãos documentos e quebras de sigilo do que um depoimento.
Na avaliação do senador, as principais vitórias da CPI por meio da documentação até o momento foram “comprovar a falsidade” de uma série de papéis demonstrando que o contrato da Covaxin não poderia ter sido firmado, e desvendar a teia de relacionamentos entre militares da reserva e intermediários com o poder público.
Leia também: Presidente da CPI manda prender ex-diretor do Ministério da Saúde; entenda